"Um péssimo serviço a Portugal e à Europa
A declaração do ministro dos Negócios Estrangeiros sobre a polémica dos cartoons presta um péssimo serviço à Europa e cobre Portugal de vergonha
Ontem, o ministro dos Negócios Estrangeiros emitiu uma declaração lamentável que não beneficia Portugal, nem a Europa, nem a convivência entre povos e crenças. Alguns excertos: "Portugal lamenta a publicação de desenhos e/ou caricaturas que ofendem as crenças ou a sensibilidade religiosa dos povos muçulmanos." Os povos muçulmanos pediram a Portugal alguma coisa? Não. Mas o MNE achou que devia dá-la. Daí a lamentação. Mais adiante, num esforço de pedagogia de um primarismo que brada aos céus, explica que "a liberdade de expressão" tem como "principal limite o dever de respeitar a liberdade e direitos dos outros", destacando "o direito de ver respeitados os símbolos fundamentais da religião que professa". Para quem tivesse dúvidas do que está em causa, o MNE especifica que "para os católicos esses símbolos são as figuras de Cristo e da Sua Mãe, a Virgem Maria", e "para os muçulmanos um dos principais símbolos [aqui houve alguma preguiça em procurar outros] é a figura do Profeta Maomé". Pergunta-se: os tão polémicos cartoons terão posto em causa a liberdade de alguém a não ser a dos seus autores, agora ameaçados de morte por quem é e continua a ser livre não só de professar a religião que quer, como se arroga ainda o direito de ameaçar e matar em nome dela? É óbvio que não. Então o que pretende o MNE com este comunicado, que inclusive recorre a Abraão para considerar "lamentável" o que se passou "em alguns países europeus"? Pretende que não se confunda "liberdade" com "licenciosidade" e apela, ainda que em surdina, a uma condenação dos tais países e, claro, a uma futura acção censória para que mais nenhuma religião se queixe (repare-se que em nenhum ponto do comunicado se refere a iniciativa rigorosamente privada das caricaturas, nem se condena ou sequer se lamenta a violenta ofensiva de fanáticos islâmicos a pretexto dos cartoons).Quando a Europa se confunde e divide numa coisa tão simples quanto a sua própria liberdade, o que se dispensa são comunicados destes, afectados por uma cegueira que toca as raias do absurdo. Porque, mais uma vez, embora muitos discursos acentuem o carácter de responsabilidade que a liberdade deverá ter, essa responsabilidade só existirá, se houver liberdade. Num clima de medo e censura só há medo e censura. Sabemos isso, por experiência própria, e também o saberão muitos muçulmanos que têm de suportar os ditames dos seus chefes. Por isso, a Europa devia entender-se quanto ao princípio da liberdade que professa antes de se dividir em autoflagelações dispensáveis e indecorosas. A Europa não tem que pedir desculpa por ser livre. A Dinamarca, país reconhecidamente generoso para com inúmeros países e causas (tal como os restantes países nórdicos), não tem que ser martirizada perante a pusilanimidade europeia, só porque há quem dê mais importância a uns desenhos do que à vida humana ou aos mais elementares direitos sociais. Quando se deu o 11 de Setembro, horrível para todos, levantaram-se no Ocidente milhões de vozes para dizer que os muçulmanos não deviam ser castigados ou perseguidos pelo acto hediondo de um grupo de fanáticos. Agora, por uns simples cartoons satíricos, os dinamarqueses são perseguidos por toda a parte, inclusive no seu próprio país, sem que no mundo árabe alguma voz se levante contra tamanha injustiça e com a Europa (Portugal incluído, para nossa vergonha) a pedir desculpas por crimes que decididamente não cometeu. Ainda iremos a tempo de repor o equilíbrio ou a barbárie vencerá?"
Nuno Pacheco, Público, 8 de Fevereiro de 2005.
quarta-feira, 8 de fevereiro de 2006
Nem mais!
Notas breves...
... sobre as polémicas que andam por aí:
a) A Secreta do PM - onde há fumo, há fogo. Neste caso, será um fogo muito mais perigoso e prejudicial que os que ocorrem no tempo quente;
b) Lusagate - para muitos, as recentes notícias não foram surpresa. Felizmente que o Público deu conta do silêncio ensurdecedor provocado pelos ditos e desditos. O pior é que não serão casos isolados, antes a ponta de um iceberg que está a crescer longe dos olhos dos mais distraídos;
c) Cartoons - Para mim, os polémicos cartoons representam o mesmo que as marchas dos skins no Martim Moniz: são manifestações racistas que expressam valores que não partilho nem defendo, mas que tolero no contexto de uma sociedade democrática e pluralista que prezo. Os muçulmanos têm todo o direito a não gostar daqueles cartoons, como os cristãos teriam caso se tratasse de caricaturar a Virgem Maria ou Jesus Cristo, mas não têm o direito de demonstrar o seu descontentamento através da violência nem tão pouco querer condicionar liberdades e garantias que muito custaram a conquistar e, sublinhe-se, custam cada vez mais a manter.
PS - A Ana Lourenço e o José Rodrigues dos Santos afirmaram, em entrevistas, que não exerciam o direito (e o dever) de eleitor para evitar constrangimentos profissionais. Agradeço comentários.
sexta-feira, 3 de fevereiro de 2006
UNESCO lança guia para jornalistas
A UNESCO lançou um guia de Internet para jornalistas dos países em desenvolvimento. Como obter informações, aceder a arquivos (áudio e vídeo) ou utilizar o material da Internet no trabalho diário de produção de notícias são algumas das dicas.
Notícia completa aqui.
literaturablogosfera.com
literaturablogosfera.com. Assim se intitula o debate que terá lugar na Póvoa de Varzim, no próximo dia 16, inserido na programação do Correntes d´Escritas, encontro de escritores de expressão ibérica que decorre de 15 a 18 de Fevereiro.
A mesa, que terá Rui Zink como moderador, vai juntar no Auditório Municipal os autores Guita Júnior, Luís Naves, Manuel Jorge Marmelo, Waldir Araújo e Xavier Queipo.
O evento é organizado pela Câmara Municipal da Póvoa de Varzim.
quinta-feira, 2 de fevereiro de 2006
Fortune 500 Business Blogging Wiki
Ora aqui está um wiki para perder algum tempo. Uma lista de blogs de empresas que constam da lista de 500 maiores da Fortune. Um trabalho Chris Anderson (Wired Magazine) Ross Mayfield (Socialtext).
Net para jornalistas
Ainda no eCauderno encontrei este livro em pdf que me pareceu muito interessante:
Martin Huckerby, The Net for Journalists. A practical guide to the internet for journalists in developing countries, The Thomson Foundation - Commonwealth Broadcasting Association - The Communication and Information Sector of UNESCO, 2005, pp. 141
Congreso Internacional de Blogs y Periodismo en la Red
Na Universidade Complutense de Madrid vai realizar-se em 26 e 27 de Abril o primeiro congresso internacional de blogs e jornalismo on-line. Os temas em debate estão aqui. Mais informações disponíveis no blog do evento.
Vi no eCuaderno.